NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DO REV. PE. JOSÉ MOREIRA MARTINHO (1925-2022)


A União das Freguesias de Seia, S. Romão e Lapa dos Dinheiros manifesta profundo pesar pelo falecimento do Reverendo Padre José Moreira Martinho, transmitindo à sua família, amigos e comunidade paroquiana, bem como à Igreja Católica, as mais sentidas condolências.

Curvamo-nos, humildemente, não apenas perante 96 anos de uma vida preenchida mas, fundamentalmente, perante o que esses 96 anos representaram para as populações que o Reverendo Padre José Moreira Martinho tão abnegadamente soube servir.

Porque de serviço à comunidade, se caracterizou todo o seu presbitério, de forma incansável e dificilmente igualável.

O Reverendo Padre José Moreira Martinho ofereceu, empenhadamente, mais de sessenta e oito anos da sua vida para conduzir espiritualmente as comunidades, e demonstrou um profundo desapego aos bens materiais gerindo-os, sempre, para os colocar ao serviço e em benefício da comunidade.

Foram, mais de 6 décadas a paroquiar São Romão e Lapa dos Dinheiros.

Sem dúvida, a figura principal da história da Vila de São Romão e da Aldeia da Lapa dos Dinheiros, nos últimos 71 anos.

Em 1950, ninguém imaginava que o novel Sacerdote teria um período tão longo de apostolado na paróquia de que tomava posse.

Em 26 anos, S. Romão tinha tido 9 Párocos.

Rapidamente, as comunidades de São Romão e da Lapa dos Dinheiros perceberam que tinham como seu orientador espiritual um Homem com uma vontade férrea, de uma coragem a toda a prova, disposto a exercer o seu apostolado de forma exemplar.

Um cidadão capaz de se bater pelo progresso material e cultural das suas paróquias, como demonstra a sua atuação ao longo destes anos:

  • Os atos do culto passaram a reger-se pela pontualidade, o que até aí não acontecia;
  • O “Sr. Prior” iniciou a visita a doentes, praticando a caridade evangélica de que só Deus conhecia a dimensão;
  • Reativou todas as Associações de Piedade da Paróquia;
  • Criou o Serviço Paroquial de Doentes;
  • Dedicou-se à catequização, colaborando com a Escola Primária, onde era recebido com alegria pelas crianças, sempre à espera das canções infantis com que animava as suas aulas. Assim aconteceu até aos seus 80 anos;
  • Recusou levantar dinheiro, fosse ele de Côngrua ou de “Folar”, durante a Visita Pascal aos Paroquianos;
  • Os Batizados, Casamentos e Funerais passaram a ser gratuitos;
  • Na Igreja, democratizou o espaço, fazendo desaparecer barreiras físicas, bem como os lugares cativos;
  • Empreendeu a remodelação do soalho velho da Igreja, o que, para espanto de todos, fez aparecer grande quantidade de ossadas humanas. As obras provocaram o ruir de uma parede, logo reconstruída;
  • Em 1951, tomou parte ativa na fundação da Banda da Academia de Santa Cecília, tendo sido presidente da direção durante algumas décadas, acumulando com o cargo de Presidente da Assembleia Geral;
  • Em abril de 1954, lançou o boletim paroquial, a “Voz de São Romão”. Assim, criou um veículo para evangelização, mas também uma “arma” para as muitas batalhas que tem travado, há 61 anos, tantos quantos tem de vida aquele jornal. Através dele, as notícias de São Romão e Lapa dos Dinheiros têm chegado a milhares de deslocados da sua terra. Durante a guerra colonial, a rubrica “Correio do Ultramar” estabelecia uma ponte com os jovens combatentes, seus paroquianos. Tem-se afirmado como um paladino dos interesses locais, nunca descurando a vertente formativa;
  • Em maio de 1954, a voz de S. Romão noticiava mais um empreendimento do Reverendo Padre José Moreira Martinho – a bênção da primeira pedra do Monumento da N.S. da Conceição;
  • Em 28 de agosto de 1954, D. Domingos Gonçalves procedeu à solene inauguração do “Monumento”, inauguração que envolveu toda a Paróquia numa festa coletiva, como não há memória. No dia seguinte decorreu, na Senhora do Desterro, uma Concentração Mariana concelhia, evento inesquecível para todos quantos participaram;
  • Dezembro de 1954 – O “Sr. Prior” lançava a ideia de uma Casa Paroquial;
  • Janeiro de 1955 – Começava na “Voz de S. Romão” a campanha para uma “Igreja Nova” na Lapa dos Dinheiros;
  • Setembro de 1955 – Mais um projeto vem a lume – uma Igreja nova para São Romão;
  • 1956 – O Rev. P.e Martinho bate-se pelo arranjo das estradas da Assamassa e São Romão – Loriga, bem como pela construção de um ramal para a Lapa dos Dinheiros;
  • 1957 – Instala-se em S. Romão a Aeronáutica Militar, e o Sr. Prior é constituído seu Assistente religioso;
  • 1958 – É apresentado o projeto da Casa Paroquial;
  • 1960 – Com enorme empenho, a Casa Paroquial fica pronta;
  • 1962 – Inicia-se a construção da Igreja da Lapa dos Dinheiros, que viria a ser inaugurada em 1968;
  • 1962 – É restaurada a Igreja Matriz, para o que se realiza um Cortejo de Oferendas;
  • 1965 – Começa uma campanha para a edificação de uma capela na Catraia, reivindicando também a construção de fontanários e a instalação de eletricidade;
  • 1967 – Procede-se a profundo restauro da Capela de São Romão;
  • 1967 – A torre da Igreja “cresceu” uns metros, permitindo a colocação de um sino novo e a fixação de um relógio luminoso;
  • 1972 – É benzido o cemitério da Lapa dos Dinheiros, pelo qual a Voz de São Romão e o seu diretor se haviam batido, durante 10 anos;
  • 1983 – Finalmente é inaugurada a Capela da Catraia;
  • 14 de setembro de 1993 – Após 38 anos de projetos, sucessivamente alterados ou adiados, eis que se materializa o maior sonho do Rev. P.e José Moreira Martinho – a sagração da Igreja do Imaculado Coração de Maria.

É justo salientar que o Reverendo Padre José Moreira Martinho teve ação meritória noutros acontecimentos:

  • Casa de Santa Isabel – contribuiu fortemente para que este Instituto de Pedagogia educativa e curativa se pudesse estabelecer nos terrenos doados pelo benemérito Sr. Carlos Monteiro Belo, de quem o Sr. Prior veio a ser testamenteiro. Por via disso, foi possível também a edificação do Bairro Monteiro Belo;
  • Sedes da Banda e dos Bombeiros – Colaborou ativamente para que estas instituições pudessem fruir e iniciar obra no terreno doado pelo benemérito Sr. Comendador Evaristo Nogueira;
  • Sede do Rancho – Tendo ficado pertença da Fábrica da Igreja, o edifício do antigo Patronato, proporcionou ao Rancho “Os Pastores de São Romão” a possibilidade de se instalarem nele;
  • Lar do Monterroso – Solicitado para ceder aos Bombeiros o património destinado à 3ª idade que a Igreja recebera dos beneméritos, José Marques Garcia e Esposa, o Sr. Prior não hesitou – anuiu prontamente;
  • Lapa dos Dinheiros – À iniciativa do Pároco, se deve a chegada do telefone, a construção do Centro Cultural e Recreativo, bem como o Monumento ao Sagrado Coração de Jesus e foi Presidente Honorário do Centro Social da Lapa dos Dinheiros.

Empreendeu ainda o restauro profundo de vários templos, a saber: Capela da Sr.ª da Estrela; Capela de São Romão; Igreja Matriz; Capela da Catraia; Capela da Sr.ª do Amparo, na Lapa dos Dinheiros; estimulou e contribuiu para que a Confraria da Sr.ª do Desterro realizasse a recuperação de várias capelas e imagens do Santuário.

Para além de tudo o que fica referido, o Reverendo Padre José Moreira Martinho foi Diretor do Colégio de S. Romão; lecionou Religião e Moral em diversas escolas, nomeadamente na Escola Evaristo Nogueira; criou a Telescola; integrou diversas comissões cívicas – Liga dos Amigos de São Romão, Comissão de Defesa dos Baldios; pugnou pela eliminação do portão na estrada da Sr.ª do Desterro, etc., assumindo-se sempre como um cidadão de corpo inteiro e um amigo especial de São Romão e da Lapa dos Dinheiros pelo coração e pelos atos.

Em 2000, ao perfazer 50 anos de paroquialidade, a Assembleia de Freguesia de São Romão atribuiu-lhe o grau de Cidadão de Mérito e a população da então freguesia da Lapa dos Dinheiros promoveu-lhe uma grandiosa homenagem.

É justo o reconhecimento por toda a sua obra em benefício das paróquias que tão sabiamente soube dirigir.

Que a sua alma descanse em paz.

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